Pombão (Patagioenas picazuro)

asa branca:

bateu asas do sertão

antes, inspirou baião

mistério

confidências na areia

as ondas levaram pro mar.

(o amor se eterniza em segredo)

No solo fofo

a minhoca se desloca

sem sufoco

encanto

no horizonte a palavra verseja

enquanto a arara azul

o céu azuleja

camuflagem

Dos pios ouvidos

vários clamam parceiros

de tempo idos

Flamboyant (Delonix regia)

outubro, pelas manhãs:

a luz dourada intensifica em cores

as régias flores dos flamboiãs

terapia

a rejeição do aparente

quase sempre

nega o latente

Repicam gotas

da fina chuva fria

nas folhas rotas

segredo

atrás da porta escondemos

nossos segredos e sacrilégios:

o que condenamos como profano.

O vento agita

a virgem verde ramagem

da mata aflita

na haste da rosa seca

paira indecisa

uma borboleta

Lépido esquilo

pula-salta, salta-pula

nem sempre tranquilo

no silêncio da campina

há sentinela:

ave de rapina

No largo açude

capivaras não raras

gozam saúde

lixeiro do céu

sem perceber a lida

o urubu espreita a morte

ávido de vida

im-pessoal

nada enfim valeu a pena

: teu amor era de vidro

e minha alma pequena.

Luminescente,

no céu, a lua dá ao léu

um sorriso sem dentes

Embora minguante

o universo (ainda) lhe sorri

espécie delirante

Cheia, branco-suja

o que ainda inspiras

redonda garatuja?

crença

no espelho do lago

reflete-se inconformado

o patinho feio

Em sobreposição,

em leque, asa e folha

despertam emoção

tanka invertida

Nos cascos do parceiro
pululam insetos que pulam

suiriri-cavaleiro

viagem anunciada

apenas as estrelas

alinham os meus olhos

na largura do mar

De tão comum

poucos notam encantos

em pardal algum

mensagem do além

não se iluda com o alto

: a égide do chão

é que promove o salto

Invólucro armado

protege (bio)mistérios

de belo ser alado

Flor da ninféia

armazém de néctar e pólen

prazeres da colméia

impropério

queimada na mata

não há melhor sorte:

a fuga ou a morte